quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Todos os dias devemos criar

Memorial da Resistência - São Paulo, SP (23/10/2009)

Em um cantinho, a aranha tece seu tricô em pontos altos e baixos.
A formiga não sai da linha, mesmo ao carregar sua cruz.
Lá do alto, a abelha viu margaridas sorrindo.
Desceu para beijá-las.
E assim, cada ser concebe seus instintos.
Ninguém se questiona.

O menino está sentado à direita do Pai.
Que bebendo um pouco d’água, aprecia a obra. 
Já cansado, ele limpa o suor e assenta mais um tijolo.

Lá fora uma sacola dança.
E a criança sorri contemplando o espetáculo do mundo.

Todos os dias devemos criar e respeitar nossa natureza. Contrair para si a realidade em um particular movimento interior. E uma vez maduro, expressar sua força no movimento do mundo.
Não é assim uma semente que germina? Que no seu vir-a-ser toca o imprevisível e faz arte?
Guardo comigo cada fato na linha ininterrupta do tempo.
E amo o fato. Aquilo que é e tudo o que ficou para trás.

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Gota que cai


Eu sou só um grão de areia
Que o vento brinca de tocar
Felicidade é lua cheia
E o amor é como o mar

Caminhos que se cruzam com o meu
Sinais de quem passou
Só a onda entendeu
E a marca levou

Pois tudo que faço
É uma gota que cai
Depois de um breve abraço
A onda se vai

sábado, 26 de novembro de 2011

O Trágico Fim

Jardim Botânico - Curitiba, PR (03/06/10)

Existe um certa sutileza ao se pensar em começo e fim de momentos que surgem em nossas vidas. Por convenção e organização definimos datas para realizarmos trabalho ou ainda temos que respeitar o ritmo da natureza. Isso quer dizer que devemos certamente cumprir com os prazos estabelecidos para desenvolvermos uma atividade e que não podemos simplesmente colher o fruto antes do seu tempo. Mas agora vamos pensar sobre o conhecimento e sobre os sentimentos.
Quando eu estava no mestrado e em fase de defesa me veio esse pensamento: "Mas o que me define um mestre?" "Quando é que posso me considerar com tal título?" Infelizmente as convenções adotadas extrapolam os campos aos quais essas podem atuar. Pois essa sutil medida ou definição de começo e fim não se ajusta a uma fase de aprendizado nem ao envolvimento afetivo. Tudo bem, podemos dizer que as etapas que permitem tal rótulo de mestre foram cumpridas, afinal tiveram disciplinas, créditos realizados, exames e por fim a defesa da dissertação. Agora pensando na formação do intelecto, essa está longe de ser devidamente avaliada e constatada como atingida.

Vamos pensar agora em uma questão mais complexa. Quando é que se termina um laço? Como é que podemos dizer que é o fim? Esse é um outro erro ao qual ainda não se tem uma melhor adequação e que nos causa tanto sofrimento e dor.
O começo surge na distração. Quando menos esperamos, estamos envolvidos nos sorrisos e no jeito de olhar de outra pessoa. O tempo passa e algo, que também não sei ao certo, torna-se discrepante incompreensível e incômodo e a "única solução" é terminar o ciclo e por fim ao laço.
Quanta burrice e ingenuidade jogar tudo nas contas do tempo. Esse coitado é simplesmente usado como refúgio para o que deve-se encarar desde cedo. Usamos de forma indevida e desfavorável toda potência desse Deus que governa em nosso mundo de percepções. Um sentimento não respeita datas, ele é como uma nebulosa se dissipando em átimos numa série ininterruputa de instantes. Como ajustar nossas ações á esse movimento? Como permitir que dessa nebulosa surja uma estrela? Peço para nos distanciarmos dos conceitos e de longe olhar com calma para os fatos. Vamos de mãos dadas? Acompanhe meus singelos pensamentos.

domingo, 20 de novembro de 2011

Monólogo Sobre o Amor

The Garden of Love (Improvisation Number 27), 1912 - Kandinsky

Desde Gabriela o amor vive me pregando peças. Chega me prometendo o céu e depois me tira o chão.
Ai! Como eu me via naquele olhar. Era a primeira vez que eu esbarrava naqueles mistérios. Que as palavras eram mudas e o silêncio, reconfortante.
Me parece inocência quando lembro do medo e das incertezas de um futuro tão imenso. Do contrário, haviam duendes e fadas, pois nesse tempo a magia era forte.
E foi então que questionei o amor e na sua ausência de sentido começou a se vingar de mim por tal feito.
Eu que via tanta coisa errada no modelo convencional de laços, achava que era capaz de lutar contra ele e mostrar que não precisa ser assim. Tudo bem, não quero ceder meu olhar e enxergar da maneira como os outros vêm, mas eis o desafio, como descobrir ou explicar meu olhar?
Em poucas palavras o que penso é:
Os relacionamentos deviam perdurar começos.
Não devíamos nos preocupar em estar com alguém.
A experiência que obtemos em todas as habilidades que podemos desenvolver tem valor maior do que qualquer pessoa. 
Viemos sozinhos ao mundo e sozinhos retornaremos.
A vida é única e não devemos esperar nada além desta.
Quando pais, devemos criar nossos filhos para serem independentes. Devem conhecer a solidão e a complexidade dos laços desde cedo.

Agora misture todas em um único pensamento.

Estrada para a represa Broa - São Carlos, SP

Todo começo é bom por que tem mistérios. Temos aquelas leves impressões e procuramos saciá-las. Nessa fase tudo é tolerável, nenhuma felicidade depende da outra e a segurança de ambos é como uma áurea cintilante. Com Gabriela foi assim e por isso eu penso que foi o laço mais pleno. O medo nos separou. Pois ainda éramos jovens de mais para amar.

Então me isolei e continuei refletindo até chegar Mariana. Ela me mostrou um amor maduro e me fez rir das inquietações de um adolescente. Com ela não tinha horários nem permissões. As escolhas partiam só de nós dois. Interessante não é? Isso segue meus princípios de não ter que dar satisfação à mais ninguém além de sua companhia. Não sei por que não me deixei cativar. Na verdade, nem pensei muito nisso... e mais uma vez estava só.

Foi então que comecei a dançar. O amor que oscila deve seguir algum ritmo, quem sabe aprendo seus passos, pensava comigo. E dançando conheci Emanuelle que estranhava meus pensamentos. Quis me curar, mostrar que as coisas são simples e que basta o deixar-se levar. Mas sabe qual é uma das principais  confusões que as pessoas fazem? Acham que precisam preencher um certo vazio. Que somos metade e que só existe prazer a dois. Então você vai me dizer que isso faz parte da natureza? Vai  citar Schopenhauer referindo-se ao nosso intuito de perpetuar a espécie? Que quando olhamos para o outro gênero estamos induzindo nossa prole? Pois bem, nossa espécie não é a única e nem a mais sábia delas. Tanto que nem seremos capazes de destruir a terra, mas sim nossa própria espécie. Por que em alguns milhões de anos a terra estará novinha em folha, desde que não exista pragas com forças contrárias ao meio.

Bosque dos Jequitibás - Campinas, SP
Bom, com Emanuelle também não deu certo... E depois disso até tentei evitar um novo laço. Mas, Hosana surgiu e mesmo eu dizendo, "não goste de mim" (achando que poderia funcionar), "o fim" não deixou de ser trágico. Inclusive tenho problemas com isso. Tenho algumas atitudes equivocadas devido a uma certa expectativa de ser mais claro. Infelizmente ainda não somos capazes de nos comunicar usando sinais de pensamento. Eu imagino que essa lacuna são como aqueles sentimentos sem nome. Sabe? Daqueles que surgem do nada mesmo sem ser em tardes de domingo. Não temos ainda condições de explicá-los mas é sim, sentimento sem nome, ou vai me dizer que você é capaz de nomear todos? Tem certeza que só existe triste, contente, confuso e saudade? O que você acha? as palavras são um limite ou não são?
E voltando a falar de Hosana... Com ela descobri um prazer jubilatório se esgueirado em minhas fraquezas.  Nas dificuldades, pensava sobre a aguces que a sensibilidade desperta nos olhares, pois sem ela há certas coisas que nunca poderemos enxergar ou compreender. Tornemo-nos duros mas nunca insensíveis.

Relacionei os valores que temos com aquela necessidade de "achar a tampa da panela" e pensei. Bom, já que é pra buscar alguém (algo que não concordo) por onde devo andar? Num bar? ou olhando em latas de lixo? Quem tem mais valor?

(Será que aqui tem pessoas interessantes?) 
Missionários do Blues - SESC in Blues, Ribeirão Preto - SP
(Ou essa opção é melhor?)
Tusca 2010 - São Carlos, SP
Me parece só uma questão de valores os lugares que frequentamos.

Continua...

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Sobre a Coragem

Le Lanceur De Couteaux - Henri Matisse (1943)

A menina encarou o enfrentar-se pedindo dois copos de júbilo efêmero. Chegar à constância era tão simples e mesmo assim ela não entendia por que o abismo sempre continuava olhando-a na manhã seguinte. Ao chegar no banheiro, o espelho apontou por onde começar enquanto ela ajeitava seus cabelos. Descuidou-se e chorou por uns instantes.

Noite à dentro flertou com o vazio, mas seus amigos estavam lá para protegê-la, levando-a para pensamentos tão sublimes quanto distantes, breves. E era somente no dançar que a voz surgia e a menina percebia que um sentimento estranho sincronizava com seu ritmo. Porém, descuidou-se novamente.

Num subterfúgio, apaixonou-se loucamente pela liberdade que conquistara, valorizando tudo o que lhe tira de seu eu e da clareza de suas fraquezas. Penso comigo que desse mar não surge estrelas e o que resta é só o fosco brilho das sombras projetadas em uma calmaria de domingo.

Mas se ela se superar e aceitar o caos que existe em nós, começará a entender o vento nas copas. E a partir de então, confrontará o desafio, pois quando estiver gozando símbolos e contemplando abraços em noites frias o demônio lhe surgirá como num sonho, perguntando:

- Serás capaz de viver sem isso?

E olhando o desgaste de cada símbolo, de cada palavra e de cada sinal deixado na areia a verdade lhe repousará e todos seus valores sucumbirão na alma. Coragem! Grita o demônio que ainda a contempla, porque nada é para sempre e a faca que separa os laços é suave.

Então, quando o sabor dessa tragédia adoçar seu ritmo, deseje tudo de novo.
Só assim perdurará seu sorriso.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Sobre Símbolos que Criamos

Restaurante Original - Florianópolis, SC (13/10/11)

O trigo louro está sujeito à cor de seus cabelos.
É o preço por se deixar cativar.
Tão caro quanto deixar o sol morrer.
Ao seu lado.

No embrulho haviam canções.
Encenavam tudo aquilo que vivi.
E os restos de um aroma eloquente
ainda clamavam o toque dos meus dedos. 

Sonhos deixados de lado. 
Livros que nem li.
E o violão, agora calado.

Cada símbolo recai na lembrança do que não foi.
E nos comprazeres de um pé descalço na areia.
Apaga-te chama, me deixa dormir.
Outra estrela brilha.
Nem posso tocá-la.


domingo, 20 de março de 2011

Sobre a Família

Tartarugas no Bosque dos Jequitibás - Campinas, SP (20/03/2011)

Minha mãe me deu caráter, meu pai respeito e a vida me deu vontade. Acima de qualquer visão que mostre conquistas, desafios, a busca por ideais, cujo umbigo vale mais que qualquer minuto de silêncio, fui educado para ser só...

E experimentava as minhas fraquezas dez vezes por dia e dez vezes por dia tive que lutar. No caminho, não havia elevadores com TV e o que me restava eram longas escadas. Não me esqueço dos amigos que diziam por quais degraus subir. Ouvi cada intuição e escolhi por onde pisar.

E pratiquei o desapego, por enfrentar duras verdades.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

Dias Vãos em Tardes sem Fim

Palácio Quitandinha - Petrópolis, RJ (06/01/11)

Não me repousa mais a falta.
Te traio com versos que já não são teus.
Sozinho, o coração exalta.
Desabota suspiros nesse seio meu.

O laço frouxo sufoca.
E o olhar é tão fosco.
Entre meus dedos,
um sentimento do tamanho do mundo.
Não posso tocá-lo.

Se faço jus ao desejo.
No seu corpo entrelaçar.
Na noite devo fugir,
pra nunca mais retornar.

Acordei com mentiras dormindo ao meu lado.
Serena, fustiga, fico calado.
Quando restaura, me acolhe junto ao lar.
Tão bela é a solidão.

quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Um vão na Noite em dia de Chuva

Aos Redores de Sta Rita de Caldas - MG (Após um leite de vaca) - (30/07/2010)

Na chuva haviam gotas pesadas de tristeza que inundavam toda a minha espectativa de rever aquelas amigáveis faces. O vento assoprando as copas das árvores perguntava: Onde estão seus amigos? E por que as nuvens choram?
Para cada resposta o silêncio. E a solidão que é amiga, também me esmagava o brilho nos olhos. Me tirava a força de estar em si, que alimenta o vir-a-ser e que é tão sagrada.

Com a chuva ainda restaram saudades. E o fastio que ficou, me engasgava como uma negra serperte intalada na garganta. Já não quero pensar no orgulho dos homens, recorrerei a enxurrada e deixarei levar com ela esse amargo vazio.