terça-feira, 14 de dezembro de 2010

O Beijo Tácito


Odalisca com calça vermelha - Matisse (Pinacoteca de São Paulo - 23/10/09)

O fruto teve princípio no retiro.
Manifestou-se doce ao olhar alheio.
Rupturas o tornou claro
e as quimeras lhe trouxeram anseio.

Parcas coxas entre desejos,
emaranharam seus cabelos.
E o indício do suspiro breve
tilintaram bodas nos seus dedos.

O brado canto da sereia,
evoca a sensação vadia.
No amargo beijo da volúpia
de júbilo verteu-se vazia.


sábado, 11 de dezembro de 2010

Sobre Valores, Instruções, Códigos e Linguagem

Ipê-branco UFSCar, São Carlos - SP (26/07/2010)

Somos como variáveis e recebemos diversos valores na medida em que as instruções da vida são executadas.

A todo momento aprendemos diversas dessas instruções. Nem sempre às entendemos e penso que são nossos olhos. Não estão acostumados com o brilho fora da caverna, pois depois que as cores tornam-se formas, não é difícil enxergar a beleza das curvas que as definem. É necessário porém, certos olhares. Uma atribuição direta de sensibilidade.

Todo código que nos expressa é complexo e como não se bastasse isso, a linguagem é restritiva. Limita tudo aquilo que sinto, tudo aquilo que intuo e que não sou capaz de compilar em minhas sensações.

Meu desejo é menor que pouco. Se média igual a seis então escrevo "tudo bem". Mas devo mesmo é ir de um até o infinito buscando a posição do maior conhecimento. Nessa função retorno a quem chamar todo o meu saber. Nem sequer preciso de parâmetros.

As instruções da vida se repetem em um loop indefinível, e cada condição, cada escolha, cada valor e até mesmo cada erro estarão nas mesmas linhas do programa, será como um eterno retorno. E com isso, todo código que escrevo, digo ou faço tem agora um peso mais pesado. É maravilhoso!

Se (é possível) and (tenho fatos) então pode não ser sempre assim. Uma sinfonia não precisa de verdades, mas sim de dons, de artistas. Assim é o programa da vida, como uma arte. Não o vejo tão exato (mas cá entre nós ele não é tão aleatório assim), o sinto como uma música onde cada nota é uma parte indivisível no tempo.

Troco valores, me perco em conceitos, busco constantes, tendo ao caos e a cada instante me transformo. Se rodar, me alegra o superar-se.

domingo, 14 de novembro de 2010

Sobre o tempo de aprender

Bodegas y Viñedos Familia Cecchin - Mendoza - Argentina (08/07/10)

Ontem à noite, enquanto apreciava um vinho ao som de Romaria (letra de Renato Teixeira), fui tomado por algumas reflexões...

Lembrei-me de uma situação, mas todo o período também me veio à tona, em que num dia qualquer eu estava trabalhando na Zona Azul (em Poços não é parquímetro) e um coordenador da área veio até a quadra onde eu estava verificar se estava tudo correto, ou seja, estava exercendo sua função. Nós fiscais da Zona Azul éramos responsáveis por colocar (vender) os cartões de estacionamento nas principais ruas do centro da cidade e os coordenadores responsáveis por nos orientar, acompanhar nosso trabalho.

Foi uma fase muito interessante pra mim, mas dessa vez vou me atentar ao fato. O coordenador ali presente, que partilhava sua prosa, já era uma pessoa de grande cultura e me presenteava com histórias reflexivas tão aprazíveis (até coloquei uma nesse estilo ao final do texto). Eu apesar de meus limites, às ouvia com toda a atenção. E é justamente sobre esses limites que quero me referir nesse texto.

Enquanto me falava sobre o quanto gostava de Elis Regina, o coordenador mencionava a grande habilidade da cantora ao gravar seus discos, sempre com poucos ou nenhum erro durante o processo de gravação e brincando, dizia que os grupos de pagodes atuais (naquela época) deveriam gravar pelo menos umas dez vezes para ficar tão perfeito quanto Elis.

Eu estava longe de entender essa perfeição ao qual falava e para mim, as músicas eram todas iguais. Músicas boas são as que tocam em todos lugares, que fazem sucesso. Belo engano. O que é tangível ao gosto se salienta na posteridade.

Sempre que descubro uma forma de pensar e na medida em que o tempo passa as idéias vão ficando mais claras, tornando-se maduras, um contentamento me invade. Penso que para a música popular brasileira ter chegado até mim teve seu tempo (cerca de uns seis anos). Sendo esse necessário ou não, vejo o agora.

É assim a vida? Pois bem, outra vez.

Um velho homem sábio pediu a um jovem triste que colocasse uma mão cheia de sal em um copo d'água e bebesse.

_ "Qual é o gosto?" perguntou o velho homem sábio.
_ "Ruim" disse o aprendiz.

O homem, então, sorriu e pediu ao jovem que pegasse outra mão cheia de sal e levasse a um lago. Os dois caminharam em silêncio e o jovem jogou o sal no lago, então o velho disse:

_ "Beba um pouco dessa água".

Enquanto a água escorria do queixo do jovem, o homem perguntou:

_ "Qual é o gosto?"
_ "Bom!" disse o rapaz.
_ "Você sente o gosto do sal?" perguntou o velho.
_ "Não" disse o jovem.

O homem então sentou ao lado do jovem, pegou sua mão e disse:

_ "A dor na vida de uma pessoa não muda. Mas o sabor da dor depende de onde a colocamos. Então, quando você sentir dor, a única coisa que você deve fazer é aumentar o sentido das coisas.
Deixe de ser um copo. Torne-se um lago..."

Sobre o tempo de aprender


Bodegas y Viñedos Familia Cecchin - Mendoza - Argentina (08/07/10)

Ontem à noite, enquanto apreciava um vinho ao som de Romaria (letra de Renato Teixeira), fui tomado por algumas reflexões...


Lembrei-me de uma situação, mas todo o período também me veio à tona, em que num dia qualquer, eu estava trabalhando na Zona Azul (em Poços não é parquímetro) e um coordenador da área veio até a quadra onde eu estava verificar se estava tudo correto, ou seja, estava exercendo sua função. Nós fiscais da Zona Azul éramos responsáveis por colocar (vender) os cartões de estacionamento nas principais ruas do centro da cidade e os coordenadores responsáveis por nos orientar, acompanhar nosso trabalho.

Foi uma fase muito interessante pra mim, mas dessa vez vou me atentar ao fato. O coordenador ali presente, que me partilhava sua prosa, já era uma pessoa de grande cultura e me presenteava com histórias reflexivas tão aprazíveis (até coloquei uma nesse estilo ao final do texto). Eu apesar de meus limites, às ouvia com toda a atenção. E é justamente sobre esses limites que quero me referir nesse texto.



quarta-feira, 10 de novembro de 2010

Sigo cantando

Casa da Vó Lurdes - Santa Rita de Caldas, MG (06/11/2010)

Eis que surge o menino, carregando nos ombros um violão. Em uma das mãos segura uma bolsa que expressa seus tons de verde. Dentro dela existem valores e também seus demais pertences. Os valores combinam com as cores, porém muitos deles irão desertar.

No olhar do menino há grandes sonhos. Ele mal compreende a vida e o que o rege é sua intuição. Enquanto o vejo, o reconheço ao longe pois, de toda sua melodia só me sugere partes.

A sede do saber o envolve como uma áurea cintilante. Seria assim se o pudessem ver naquela tarde de domingo. Escolhas, desejos, deidades. O que muda é o que ocupa fortemente o espírito.

O menino segue com seu violão (vide voto), mas nem tudo é igual. Nem o homem e nem as águas do rio são as mesmas enquanto o homem lava seu rosto. Ambos se movimentam em um fluxo contínuo, cada parte é unica e nenhuma se separara. Ai! como isso é divino! É como uma música.

terça-feira, 19 de outubro de 2010

Sobre os caminhos que trilhamos

Toque toque pequeno, São Sebastião - SP (11/10/2010)

Será mesmo o superar-se mais forte do que qualquer amor? Reflexos desse último, ao que parece, me cessam o movimento e me impedem de acompanhar o ritmo da vida.

Vejo dois caminhos distintos que somente em desejos se cruzam. A solidão sim, é sempre companheira e nem por isso, triste é meu ser.

Cada escolha traz consigo uma fé. E a verdade paira sobre a certeza dos homens.
Só, viverei buscando momentos e para cada instante preservarei uma sensação. Serão como infinitos paraísos.

Sigo ainda com esperanças. Esperança de que um dia nos comuniquemos por olhares, pois cada palavra é um abismo de suposições. E a sua beleza será então a minha sintonia.

Oscilo entre as veredas de cada sinal deixado na areia. Onde chegarei? Somente o percurso é sensato. Me transforma a cada passo em direção a mim mesmo.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Reflexões de Uma Pedra



Não sei por que estou aqui.
Simplesmente quando dei por mim eu era assim, um ser imóvel e pensante.
Percebo que é estranho pensar, mais estranho ainda é pensar que estou pensando.
Pois penso nas coisas que se passam, não sei o que são, mas apenas sei que passam.
Ora são carícias, que eu chamei de vento, e ora são lágrimas, que eu chamei de chuva.
Quando é claro é quente e quando é noite é silêncio.

Sou um ser imóvel e pensante.
O que eu sinto só eu sei. Não precisa de verdades.
O mundo é assim, seco, molhado. quente e frio. Uma parte é terra e a outra é vento.
Não havia nada além do céu até aquele olhar. Depois disso tudo mudou, pois assim eu sei que tudo passa, tudo muda.
Eu estava no meio do caminho quando me notaram.
E toda minha singularidade aflorou-se, pois também tenho uma história.

(Publicado Poeta de Gaveta VOLUME 20)

domingo, 3 de outubro de 2010

Inevitável Saber

Machupicchu - Peru (18/07/2010)

E essa sede do saber que me extasia a boca! Quando inocente, chega a ser imposta e me embaraça a vista. Então, sigo caminhando por entre as linhas do intelecto, apenas me esbarrado no saber.
Já não pondero o que é certo ou verdade, o que é terno ou eternidade. Onde está meu interesse? Estará perdido em algum bar? Caído na calçada acompanhado de meus valores? Não, não é pra tanto. Só que as vezes me confundo ou me confundo, às vezes em que estou só.
O não saber é o que me cala a boca. É o que me convida a buscar nos outros tudo aquilo que nem se quer perdi.

sábado, 4 de setembro de 2010

A Arte Criadora

Flagrante em Puno - Peru. Em plena concepção (19/07/2010)

Julgamos o que é possível por meio de fatores que se relacionam de maneira coerente e que de alguma forma aparentam ser plausíveis para a razão, ou seja, estabelecemos métricas e parâmetros para distinguir entre o que é irrealizável ou não. Se não há razão não tem sentido, ou pelo menos, esse está aprisionado no saber.
Porém, há algo que escapa ao entendimento e despercebidos somos levados ao sentir. É ali que está a arte. Galgando o intelecto, deslizando-se no supra-real.
Somos todos artistas e assim, capazes de abraça-la. Caminhar de mãos dadas e deixar que seu ritmo flua assim como o movimento do universo. Transformados, somos capazes de enxergar tudo aquilo que até então era imperceptível em nós mesmos.
A vida é uma arte.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Sobre meus conflitos

Cascata das Antas - Poços de Caldas - MG (13/02/2010)

Tenho as mesmas expectativas que antes. E agora, a esperança de que juntos amadurecemos. O que seria dos laços se não fossem as dificuldades que os unem?
Cada palavra, cada lágrima são apenas símbolos do que se foi e reflexos dos desafios que restaram.
O que sinto não sei, o que quero te consome. Não me convenças que te amo, nem que te desprezo. Tudo é natural, assim como a pedra atirada ao alto, que cai, contrariando nossos desejos.
E posso te explicar o amor, é simples. Ele é sem razão e nem sempre está certo. As vezes finge que é dor, só pra animar o poeta.
Saiba entender minha ausência.

quarta-feira, 17 de março de 2010

Das visões do amor

"Retiro das borboletas" - Entrada Recanto Japonês - Poços de Caldas - MG (14/02/2010)

São personagens munidos de sonhos.
Brincando com a arte que tudo transforma.
Cultivam esperanças no tempo futuro,
que corrige o presente e eternamente retorna.

Cada um traz em si, significados.
Dispõem pensamentos e contradições.
Revelam seus medos e buscam verdades,
falando de amor em diferentes visões.

Esse sentimento que embala e sufoca
é como uma ideia assim, inefável.
Compõe impressões em palavras vazias
por querer dar sentido ao inexplicável.

quinta-feira, 4 de março de 2010

Um poeminha de nada

Museu da Língua Portugues - São Paulo, SP (23/10/2009)

O segredo é não ter pressa, deixe que a distância, o vazio e a magia da ausência cumpram seus encargos. Enquanto isso leia um livro, olhe os pássaros... pense nas dúvidas que surgem durante a solidão.

Noite após dia o tempo passa e então, acariciando a relva, eis que surge o vento. Pode ser que esse venha acompanhado de um luar porém, o mais provável é a companhia de uma música soando longe. Repare nos bambus.

A falta não é triste. Não precisa de verdade nem de compreensão.

terça-feira, 19 de janeiro de 2010

Parabéns para o Márcio

Festa de Aniversário - Repblica Bar do Toco

Grande irmãozão! Hoje só vou poder lhe oferecer algumas palavras... espero que possam contribuir com suas capacidades e coragem.

Acredito que isoladas essas, e qualquer outras palavras, aparentam não terem muito significado, ainda mais que elas não sabem o que a gente sente. Posso estar de mau humor e ler palavras lindas e mesmo assim não me sentir nenhum pouco tocado por elas. Posso estar muito alegre e qualquer palavra me aparentará inesquecível. Mas então pra que elas servem? Esse pensamento me veio agora, mandando essa mensagem pra você. Pensei: "Nossa, estou distante e nem sei qual a realidade que cerca as vivências do meu irmão. Como poderei dizer alguma coisa se eu não posso ter certeza de que isso será importante para ele". Esse pensamento me deixou preocupado com a vaguesa do que eu poderia te dizer, desejando apenas um Feliz Aniversário.

Mas os pensamentos são incríveis, eles não vêm sozinhos. Lembrei-me de como as coisas vão se tornando marcantes e interessantes para nosso crescimento. Seja ele profissional, intelectual, ou de qualquer outro tipo, mas são através das Observações que nos superamos. Não entendo ainda como as classificamos, mas de qualquer forma, olhamos um fato aqui, lemos outras coisas ali, ouvimos conversas de amigos, reparamos na sociedade e misturando tudo isso, nos transformamos. Podemos nos transformar em coisas que nem imaginamos, desde bandidos até grandes filósofos e é uma pena que não entendemos como isso é possível.

O que tenho a dizer com tudo isso é que eu lhe desejo as melhores observações possíveis, mas só você é capaz de distinguí-las. Desejo também muitos anos de Vida, pois não existe nada melhor que ela... a Vida.

Um grande Abraço.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Gostar daquilo faz...

Memorial da Resistência - Estação Pinacoteca - São Paulo, SP (23/10/2009)

Falar do trabalho exige uma certa atenção especial. Já tracei alguns pontos de vista na relação dele com a minha forma de viver. Eu não sou eu sem ele, ou por influência dele. Observei que as pessoas mais importantes que conheci tangenciaram seu caminho, ou o caminho cavado por ele.
Fiz molequices ao lado de pessoas levianas. Fiz o mesmo com pessoas de convicção. Cedo ou tarde aprendi. Melhor... estou aprendendo.
Meu mundo já foi do tamanho de algumas ruas e também maior que algumas cidades que conheci. Foi gostoso igual a chocolate. Amargo como o passar do relógio nos embalos de sábado a noite. Quantos sonhos perdi com meu salário? E quantos dias se passaram até eu perceber que não eram assim?
Não mudei de emprego, só de preocupações.
Não troquei amigos, só me desfiz de ilusões.