quinta-feira, 30 de julho de 2009

O Poeta

Escultura de Drummod - Rio, Copacabana - RJ

Sentando no banco olhando o caminhar das moças estava o poeta. Suas palavras cruzavam a distância, os momentos, os lugares e o tempo e por isso chegavam até mim, que seguindo seu conselho ali estava, à conviver com meus poemas. Já faziam alguns dias desde quando eu havia penetrado surdamente no reino das palavras, mas frente a todo seu esplendor, engatinhava sob suas mil faces secretas.
Entrei algumas vezes no mar, caminhei sobre escorregadias pedras enquanto subia as montanhas, me deslumbrei com cidades vistas do alto e também com o corpo das mulheres. Estive ainda em acalentadoras conversas, oras com amigos oras comigo, sempre à observar o mistério dos símbolos. O que escrevi já não sei, já não sou. Pra onde irei já não vim. Transfigurado... nem mais homem, nem mais animal, um ser que sorri.

terça-feira, 28 de julho de 2009

Olhar de estrelas

Transverse Line - Kandinsky

E tu cruzeiro do sul, por que escondestes na presença de minha amada? Por que não deixais eu mostrar o meu valor? Sim, estás ciente que o valor maior é o instante, o momento em que contemplávamos juntos toda a imensidão de estrelas nas quais tu te ofuscavas. Até tu perdeste seu valor perante as outras. Mas ambos sabemos que isso não importa.
Apesar do frio, o abraço do braço da via láctea não era vazio, era visível e compreensível. O momento era simples, um inexplicável olhar de estrelas.
Agora estás ai a me olhar, me dando coragem pra seguir viagem.

domingo, 19 de julho de 2009

Hora certa de Amar

Black Sketch - Matisse

Os homens admiram as prostitutas mas não são capazes de amá-las. Eles amam as meninas inocentes, desprotegidas e acorrentadas. As prostitutas são livres. Seus decotes aterrorizam os laços. Os homens com medo, admiram! Mas se casam e valorizam mulheres mais fracas do que eles.
Evito me preocupar com mulheres delicadas. É o mesmo que tratá-las como frágeis. Ao contrário, sei que cresceram e agora também olham o superar-se. A cada dia se transformam escalando montanhas. Digo que sigam e atinjam os céus, mas por favor, não se igualem aos homens, estão todos perdidos.
E seguindo é preciso cautela, pois seguras de si, sentem um perturbado orgulho. Não se cansam de esperar. Se organizam e crêem na hora certa de amar. Se ocupam, vencem com trabalho duro a solidão. Falham em suas emoções. Ganham o mundo e perdem o amor dos homens.

sexta-feira, 17 de julho de 2009

As ondas da menina

Reclining Nude - Modigliani

As ondas da menina se misturam com as do mar. Ela se vê em olhares vagos mesmo tendo um espelho. O usa, e só arruma seus cabelos. Seu caminhar é presunçozo. Cuida bem do que será julgado e se esqueçe das paixões oriundas. Tem hora certa para o amor. Gostou de dois ou três olhares e acreditou que eram seus. Fugiu para histórias volúveis e acreditou que eram suas. Nessa mistura de ondas, às do mar me trazem paz.


quinta-feira, 16 de julho de 2009

Contemplando a vida e organizando as palavras

Fall of Icarus - Matisse

E essas coisas que dizem os poetas? Seriam eles capazes de enxergar o que há de trás do sublime? Ou seriam meros contempladores da vida organizando as palavras?

É hora de encarar as transfigurações do ser
e perceber a verdadeira forma de viver
Olho para ela e vejo a arte, o vir a ser constante.
Que me envolve e me anima, movimentando meu instante.
Vou de braços dados, me envolvendo veemente.
Ela despojada de conceitos se confunde, manando toda sorridente.

E assim seguimos juntos, oscilando em harmonia.
Não levando a sério as palavras, mas sim as estrelas de cada dia.
Me dê a mão e vem conosco, valorizando a simplicidade.
Ouvindo calmo o silêncio, sob o transpor de um olhar suave.

Nem só de pensamentos essa arte deve ser mantida.
Essa obra da qual falo não é outra se não A Vida.

terça-feira, 14 de julho de 2009

O Menino que joga

Strahlenlinien - Kandinsky

Olha o menino que joga. Ele esquece de olhar o céu, E nessa imensidão de idéias perde a esperança de si mesmo. Ele conversa, sorri e chora, em conflito com as coisas importantes. Esta lutando, mas não sabe em que batalha. Quer vencer os outros, mas os outros são fortes e por isso não supera a si mesmo. Brincando com sua juventude ele explora seu corpo. Deixando-o sem limites.
Menino, joga o olhar no espelho e desnuda essa cara aborrecida. Olha como cresceu e começou a se dar bem com a vida.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Eu harmônico

In the Black Circle - Kandinsky

As conturbações das emoções são mesmo incompreensíveis. Somos incapazes de processar tantas informações que nos chegam pelos sentidos e o resultado é esta descomunal transformação de estados a qual estamos propensos a todo momento. A linguagem é restritiva e a alegria que tive ontem não é a mesma de hoje, mesmo sendo ambas alegria. E estranho era a tristeza reconfortante que me acalentava. Nosso Eu se intercala entre pensamentos deprimentes e aconchegantes. Quanto menos conheço o mecanismo, mais distante estou daquilo que seria o meu Eu Harmônico. Saio de casa, murmuro no vazio e vejo alguns olhares... me recomponho.

domingo, 12 de julho de 2009

Mudemos nossos valores

Nude with Oranges - Matisse

Considere uma sociedade que valoriza aqueles que vencem os outros e despreza aquele que se inventa e supera a si mesmo. Considere a falta de sensibilidade das mulheres e o papel conturbado do homem. Observe a educação medíocre que monta essa sociedade e esse homem vencedor. Pense ainda na promessa de vida plena e no medo de enxergar a felicidade em coisas simples. Então você se pergunta, há esperança? e Eu digo se acredita que Não, então você está morto. Dessa forma, não havendo esperança, o homem pequeno sempre existirá.

sábado, 11 de julho de 2009

Equação do relacionamento

Dance II (1909/10) - Matisse

Nesta minha propensão de tentar conhecer os mecanismos intrínsecos do relacionamento, vejo que cada vez mais vou conseguindo ter um raciocínio mais concreto do que talvez constitua minha ideologia de laços
afetivos. Quando me refiro a essa ideologia não estou traçando propriedades para um "par ideal" mas sim organizando o que seria a estrutura de idéias que me levam a distinguir cada qual. É necessário conhecer o mecanismo por mais que seja complexo pois "só os lutadores podem amar".
A maioria dos casais são formados por partes complementares, que na forma de equação seria como 1 + (-1) = 0, ou seja uma pessoa é 1 e a outra é o complemento dela, sendo igual a -1. Unidas se estabilizam em zero, ou seja acaba por ser um relacionamento neutro sem o "quê" de loucura que o amor propicia. Só assim dão certo, enquanto um reclama o outro escuta. Essa equação está errada, pois esse conceito de complemento é ilusório e infeliz. O correto é 1 + 1 = 2, tudo positivo. Ambas pessoas em harmonia consigo mesmas. Note que até mesmo alguém estando sozinho ainda pode ser positivo, pois 1 + 0 = 1 (Gostei da analogia das equações, parece coerente). Transforme-se em 1 deixe de ser -1 e quando então estiver transformado, resulte em 2.


quinta-feira, 9 de julho de 2009

Como é que se diz eu te amo

Upwards - kandinsky

Eu neste meu silêncio comunico sem palavras. São poucos os que entendem e dão atenção aos gestos, sem a necessidade de apenas se satisfazerem com o código da linguagem. Valorizar as palavras mais do que as atitudes é o mesmo que projetar algo além de si mesmo. Escolhemos o "Eu te amo" como o melhor findar e não observamos as transformações eloqüentes que o idealismo não é capaz de suportar.

domingo, 5 de julho de 2009

Apenas saiba escutar a música



Achei muito criativa a mensagem deste vídeo (gravado na Festa Literária Internacional de Paraty) que de uma maneira bem simples e perspicaz pôde transcrever esse instante mágico que faz parte da dança.

Alguém surge e lhe estende a mão. Os olhares são mais expressivos que as
palavras e os gestos são singelos. Saber escutar é sentir a música. É saber ouvir o momento e o movimento do corpo que se tornam naturais. São assim como o calor das mãos brandas unidas e das lembranças que ficaram para trás. Na distração nunca estamos presentes, mas com a dança isso é diferente. Pois quem é capaz de pensar no que se foi e no que está distante, se o que te move é pensar neste instante?

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A Alegria de Viver

Joy of Life - Matisse

Outro dia tive mais um destes sonhos estranhos. Já faz um certo tempo, porém foi bem marcante para algumas questões reflexivas. Sonhei que estava morto e que caminhava ao lado de uma bela garota, ao meu ver ela era a própria morte. O local onde caminhávamos não se parecia com nada do que imaginamos ser o paraíso ou o inferno, era um simples jardim. Não haviam outras pessoas conosco e íamos em direção ao pôr do sol enquanto conversávamos. Eu, aproveitando desse "tão esperado" momento, fiquei muito empolagado com a oportunidade de sanar algumas inquietudes e comecei questionar a garota sobre as principais questões que perturbam qualquer ser humano - Para onde vou agora? De onde eu vim? Somos seres incompletos? Existe uma Verdade a qual buscamos? - Não me lembro detalhantamente as respostas que obtive, mas por incrível que pareça ela revelava somente as coisas das quais eu mesmo havia pensado em vida. Foi então que no próprio sonho eu pensei - Se eu estou sonhando e somente a percepção que tenho do mundo é conhecida, nada além disso poderia fazer parte do meu entendimento - então me dei conta que a mente da morte era a minha. Acordei frustrado.
Apesar dessas perguntas serem de extrema importância, consigo conviver muito bem sem suas respostas, e uma vez que não podemos ter conhecimento daquilo que excede os limites da nossa realidade, creio que devemos olhar para o mundo, com um olhar de criança. Agindo sem medo de ser feliz e contemplando essa imensa alegria que é a de viver.

quinta-feira, 2 de julho de 2009

Transportando a percepção

Yellow, Red and Blue - Kandinsky

Quando somos criança, temos sempre aquelas fantasias de possuir super poderes como de ter a capacidade de voar, mover objetos ou ainda ser invisível. Pouco tempo atrás (no qual eu já não era mais criança) pensava em ter um poder de ser "super-informado". Dessa forma, em uma roda de amigos, eu poderia impressionar à todos (preferencialmente as garotas) com meus conhecimentos. Poderia discutir sobre diversos assuntos e me envolver em qualquer conversa, sem aquela obrigação de dizer que "Está frio hoje!" e também poderia interromper aquele silêncio incômodo que somente entre estranhos é percebido (pois ao lado de quem te traz paz ele é sereno). Acontece que de uns tempos pra cá perdi o interesse por esse poder (apesar da tentiva de aprender diversas coisas), pois estou evitando conversas, agora me interesso em ter a capacidade de remontar mentalmente minha percepção para fora do contexto onde estou e ficar por um tempo nesse meu mundo .

quarta-feira, 1 de julho de 2009

Solidão da Alma

The French Window at Nice - Matisse

Hoje a solidão tem um peso maior mesmo eu tendo pessoas ao meu lado. Solidão essa inexplicável, que me conduz ao vazio em mim mesmo. Existirá solidão da alma? onde as questões de espaço e tempo não têm sentido? Pois não seria a diferença entre a solidão (essa que conhecemos) e uma companhia apenas o intervalo de tempo entre um momento e outro?
Note que nem o espaço necessita ser considerado, pois podemos estar em um mesmo lugar acompanhados ou não, porém com dois instantes distintos. E quando esta questão de tempo é desprezível? existirá a solidão por si mesma, sem a necessidade de ser a falta de alguém?